Especial Lucas Severino

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Roberto Souza – CA Paranaense

O papo desta semana é mais que especial. O Futeboleiros EC apresenta um grande atacante da última década: Lucas Severino.

Ídolo do Botafogo-SP, do Atlético-PR e principalmente no futebol japonês, onde atuou por praticamente 10 anos, Lucas se diz privilegiado e relembra o sucesso da carreira, que inclui participação em Jogos Olímpicos, o primeiro gol da Arena da Baixada, o mais jovem a atuar profissionalmente pelo Botafogo, artilharia da Champions da Ásia, disputa do Mundial de 2008 contra o Manchester United, dentre outras muitas conquistas.

Centrado, Lucas falou dos momentos maravilhosos como jogador, das frustrações, das reviravoltas e da importância do Japão na vida dele e de sua família, contribuindo diretamente na formação e no crescimento pessoal.

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Arquivo Pessoal

Isto é só um pouco de Lucas Severino. O resto você pode conferir abaixo, neste bate papo imperdível com o ex-atleta.

Botafogo-SP

Futeboleiros EC: Como foi o início de carreira, e como é ser o jogador mais jovem a atuar pelo clube?

Lucas Severino: Foi um início bem surpreendente, pois com 16 anos subir pra equipe profissional é algo raro. Mas ao mesmo tempo foi positivo, tanto que no segundo jogo já marquei meu primeiro gol.

Consegui ser lapidado rapidamente, e mesmo jovem, na época era um dos jogadores com mais jogos pelo Botafogo.

Esse meu início precoce foi menos complicado do que costumou ser para outros jogadores.

Atlético-PR

Futeboleiros EC: Como foi a transferência para o Atlético-PR?

Lucas Severino: Terminei a A2 de 1998 contra o Mirassol, e me apresentei ao Atlético-PR. Porém com problema judicial, meu passe estava penhorado e eu acabei perdendo o que seria um grande início, as finais do Campeonato Paranaense.

Não pude jogar por culpa desse atraso, mas no mais foi tudo bem.

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Roberto Souza – CA Paranaense

Futeboleiros EC: Você viveu seu auge no Atlético-PR? Isso jogando em solo brasileiro.

Lucas Severino: Não tenha dúvida. O Botafogo me revelou e tenho um grande carinho, mas no Atlético-PR eu alcancei o destaque nacional, e até mesmo internacional, tanto que fui vendido pra fora do país posteriormente.

O Atlético me deu totais condições. Era um clube em crescimento. A Arena da Baixada não existia, jogávamos no Pinheirão.

Consegui vários títulos, várias glórias, a primeira disputa de Libertadores, a primeira convocação para seleção, foi um momento especial.

Futeboleiros EC: Como foi marcar o primeiro gol da Arena da Baixada com tanta gente boa no Atlético-PR?

Lucas Severino: Foi mágico. Porquê como você falou tinha vários jogadores. O Kléber (Pereira) era mais matador que eu. Sempre foi um autêntico centroavante. Com a presença dele sempre fui um jogador de movimentação.

Tinha um Kelly quer era um falso atacante, tinha o Gabiru (Adriano), enfim, e foi um privilégio ter sido escolhido por Deus para ser o autor do primeiro gol.

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Divulgação

Futeboleiros EC: Como foi formar dupla de ataque com Kléber Pereira?

Lucas Severino: Foi estranho no começo. Eu vinha bem e contrataram um jogador com grande sucesso no Maranhão e com passagens pela Europa. Me senti triste, não posso negar.

Mas o mérito é do Vadão, que soube encaixar todas essas peças e fazer o time jogar. Era o começo do chamado, Quadrado Mágico”, que era eu, Kléber, Adriano e Kelly. Era a combinação perfeita.

Corinthians

Futeboleiros EC: Qual o sentimento em poder jogar e ser campeão pelo Corinthians?

Lucas Severino: Pra mim foi um sonho realizado, desde infância, minha família toda era corintiana. Tanto que tinha interesse de clubes que estavam na Libertadores até, Santos e Grêmio, ambos foram atrás de mim, mas pesou o fato de ser o Corinthians.

Não foi como eu queria. Tive uma lesão logo no começo, o que me prejudicou nessa curta passagem de 6 meses.

Mas consegui participar, jogar alguns jogos e ser campeão. Me sinto honrado , e valeu a pena ter participado desse grupo, que era especial, com Liédson, Fábio Luciano, Vampeta, Gil, Leandro e muitos outros.

Europa

Futeboleiros EC: Como foi a experiência no Rennes?

Lucas Severino: Foram duas temporadas lá, depois fui emprestado para Corinthians e Cruzeiro, mas é o que eu digo, temos que sofrer pra realmente saber como são as coisas.

Foi uma adaptação muito difícil, não digo em termos de alimentação e cultural, isso eu digo que me ajudou a crescer como homem.

Dentro de campo a experiência foi negativa, até por eu achar que eu era melhor que todo mundo, aquele momento que você acha que quem tem de mudar são os demais jogadores, o treinador.

Eu não aceitava essas mudanças de esquema, e etc, por isso digo que não dei certo lá por minha causa e não de outras pessoas.

Japão

Futeboleiros EC: Seus melhores dias como futebolista foram no Japão? Quais lembranças você guarda daquele país?

Lucas Severino: 10 temporadas lá, então não tem como dizer que não foi o meu melhor momento como jogador. Me identifiquei com o país e com as duas equipes que eu defendi, guardo as melhores lembranças de lá.

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Reprodução Gamba Osaka

O Japão me transformou em um homem, essa é a lembrança que mais guardo de lá, mesmo com o nível de futebol mais baixo que o brasileiro e o europeu. Isso foi importante, além dos títulos e conquistas.

Futeboleiros EC: Como foi ser campeão continental pelo Gamba Osaka, uma das equipes mais tradicionais do Japão? E como foi disputar o Mundial contra o Manchester em 2008?

Lucas Severino: Eu não tinha noção na época, mas com o tempo eu vi a importância, tanto que eu sempre vejo isso, até hoje, quando participo de programas no Japão, vejo a repercussão que ainda tem.

A Champions League da Ásia é muito valorizada, e o Gamba tinha um grande time, a base da seleção japonesa e talvez o grande jogador da última década do país, o Endo.

O Japão me proporcionou uma oportunidade única, de jogar contra o Manchester United de Cristiano Ronaldo, Tevez, Rooney e muitos craques internacionais.

Seleção Brasileira

Futeboleiros EC: Como foi ser convocado pela seleção brasileira e ter disputado os Jogos Olímpicos de Sydney?

Lucas Severino: Começa no Pré-Olímpico, o qual eu não fazia parte do elenco, mas com a contusão do Roni que era do Fluminense, e não liberação do Denílson por parte do Bétis, eu acabei chamado junto com o Edu, outro atacante e grande amigo.

Tive um destaque bem bacana, inclusive com a maior goleada da competição (9 a 0 sobre a Colômbia). Fomos campeões e logo depois fui convocado pra um evento como esse. Foi uma oportunidade única.

Futeboleiros EC: Como era a relação com o técnico Vanderley Luxemburgo?

Lucas Severino: Era boa, nunca tive problemas, apesar dele ser um treinador rígido. Classifico ele como um dos melhores treinadores que tive.

Futeboleiros EC: O que aconteceu para aquele time não ter dado certo nos Jogos Olímpicos?

Lucas Severino: É difícil apontar um culpado, mas o Luxemburgo estava realmente com aqueles problemas de CPI, a pressão sobre a não convocação do Romário.

Ele fez o que o povo queria, deixou quem se destacou, mas ao mesmo tempo veio uma avalanche de críticas por não convocar o Romário nem outro atleta acima dos 23 anos.

Esses problemas extra-campos, de falsidade ideológica, etc, a única coisa que posso dizer era que o Luxemburgo não era o mesmo de tempos atrás.

Não conseguiu passar a mesma energia que ele sempre passou. Não vou negar que esses problemas abalaram, mas nós, talvez, não tivemos a maturidade para conseguir segurar a barra dele.

Então na verdade se tem culpado somos nós jogadores, que não soubemos contornar essa situação. Inclusive existia uma insatisfação de jogadores que no Pré-Olímpico eram titulares e ali não foram, mas não chego a pontuar que isso tenha sido um fator determinante.

Era um time fantástico, mas não conseguimos o ouro. Você para e analisa, todos foram negociados com o futebol europeu. Eu fui pro Rennes, Fábio Aurélio pro Valência, Athirson para a Juventus, Edu pro Celta de Vigo, Alex pro Parma, Ronaldinho pro PSG, Giovani pro Barcelona, Roger Benfica, Helton no Porto, Mozart que já estava na Itália, enfim, eram todos jogadores prontos e titulares nas equipes brasileiras.

Futeboleiros EC: Seu pior momento foi ter ficado fora da Copa de 2002 ou a eliminação dos Jogos de 2000?

Lucas Severino: Pior momento foi a eliminação dos Jogos, onde tínhamos 11 contra 9 camaroneses, e mesmo assim perdemos a medalha.

A Copa de 2002 era um sonho, mas estava em um mal momento na Europa e Luisão e Edílson voando no Brasil.

Lucas fora dos gramados

Futeboleiros EC: Você realiza algum tipo de trabalho para algum dos seus ex-clubes?

Lucas Severino: Com o Tokyo FC fui embaixador até 2014, pois era um cargo temporário, mas tenho uma forte ligação com ele, apresento clubes, recebo eles quando eles vem ao Brasil. Com o Gamba mesma coisa, faço palestras e etc, mas nenhum vínculo empregativo, é mais pelo respeito e consideração que eles tem por mim.

Futeboleiros EC: E como é a vida do Lucas atualmente?

Lucas Severino: Trabalho no ramo imobiliário, tenho duas incorporadoras, uma em Curitiba e outra aqui em Ribeirão Preto, e por mais que seja um momento ruim, é o ramo que eu gosto e me empenho para ter o mesmo sucesso dos tempos de jogador.

De Bate-pronto

Futeboleiros EC: Quais suas 5 maiores alegrias como jogador profissional?

Lucas Severino:Acesso com o Botafogo em 1996 para Série B, campeão da Seletiva para Libertadores em 1999, campeão Pré-Olímpico em 2000, ser campeão da Champions da Ásia e disputar um Jogos Olímpicos, foram as maiores alegrias.

Futeboleiros EC: Quais os 10 gols mais importantes da carreira?

Lucas Severino: Primeiro gol pelo Botafogo em 1995, primeiro gol da Arena da Baixada, gol do centenário do Rennes, gol contra a Venezuela no Pré-Olímpico, gol na Seletiva da Libertadores pelo Atlético, contra o Cruzeiro, na final, primeiro gol na Libertadores contra o Alianza Lima, gol no clássico contra o Coritiba, Come-Fogo em 1998, gol na final da Champions da Ásia e o gol pelo FC Tokyo que levou a equipe para a primeira divisão.

Futeboleiros EC: Quais os 10 melhores com quem já jogou?

Lucas Severino: Cocito, Edu, Endo, Kelly, Adriano Gabiru, Paulo César, Kléber Pereira, Kléberson, Alex e Ronaldinho.

Futeboleiros EC: E quais os 10 melhores da sua geração?

Lucas Severino: Marcelinho Carioca, Edmundo, Alex, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Gamarra, Rivaldo, Amoroso, Djalminha e Denílson.

Futeboleiros EC: Quais os amigos que o futebol te deu?

Lucas Severino: Cocito, que além de amigo é irmão. Jorge Wagner, Edu, Kléberson e o Leandro Montera.

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Divulgação

Futeboleiros EC: Quantos gols você marcou em toda sua carreira?

Lucas Severino: Foram 242 gols em 667 jogos.

 

Por Bruno Barbato

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